Pesadelo De Uma Noite De Verão

Tudo começa onde termina, assim dizem os sábios. Mas a verdade é que os sábios nunca tiveram um pesadelo como o que estou tendo:

Encontro-me num local em lugar nenhum. Talvez uma nuvem ou numa coluna de fumaça. Talvez no céu, mas é mais provável o inferno. Talvez na terra, talvez no mar. Enfim, não sei.

Nada é familiar e o Nada me é familiar. Parece que estou ainda no útero materno mas, pelo que não me lembro, o útero materno não é tão grande assim...

A negritude sufoca a qualquer um. Temo em andar, falar, sentir, pensar, sorrir, chorar, temer.

De repente, algo em mim desperta. Todo o meu Eu deseja independência e não me adiantar reclamar, porque minha boca também quer ser livre. Cada célula urra com ódio e temor, entoando versos cada vez mais funestos.

Quando tudo parece voltar ao normal, meu estômago rebela-se. Seu ronco me ensurdece e me faz gritar. Uma competição se estabelece e venço depois de horas.

Então minhas pernas correm, me levando junto cada vez mais rápido. Começo a me deformar e a sentir falta de ar. Com mesu braços seguro as duas rebeldes, que lutam bravamente, mas enfim sucumbem. O tombo dói, mas ESTOU dono de mim novamente.

Enfim é a vez dos braços: cada um puxa de um lado, fazendo-me de cabo-de-guerra vivo (por enquanto).

Quando a luta parece diminuir de ntensidade, contemplo horrorizado as minhas mãos lançarem-se ao espaço com fúria.

Quero me beliscar para acordar, mas os instrumentos para isto são agora meus cruéis carrascos. Tento fugir, mas sou barrado em meu intento por uma mão que me agarra o tornozelo.

Sinto o gosto misturado de terra e sangue em minha boca a queimar-me os lábios. Um grito de horror começa a surgir e é ao mesmo tempo consumido pela mão restante que aperta cada vez mais meu pescoço.

O mundo começa a turvar-se, tingindo-se ora preto, ora vermelho. O ar me falta e o Sono vem...